«O problema é intervirmos só após um acidente»
Na altura em que a instituição comemora 60 anos, o presidente do LNEC fala sobre algumas das actividades em que o Laboratório tem estado envolvido. Qual a importância do LNEC em Portugal? Qualquer actividade do paÃÂs tem que ter um motor, que passa por instituições de investigação como é o caso do LNEC, que tem… Continue reading «O problema é intervirmos só após um acidente»
Maria João Morais
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Na altura em que a instituição comemora 60 anos, o presidente do LNEC fala sobre algumas das actividades em que o Laboratório tem estado envolvido.
Qual a importância do LNEC em Portugal?
Qualquer actividade do paÃÂs tem que ter um motor, que passa por instituições de investigação como é o caso do LNEC, que tem um passado rico e é capaz de estimular o conhecimento, com uma actividade ligada àinovação e àinvestigação. O laboratório cria condições para o desenvolvimento de uma determinada área e quando essa actividade está apropriada pelo mercado, procuramos outra. A nossa missão é de serviço público na garantia de qualidade. Dentro desta lógica, deve haver um equilÃÂbrio entre investigação e desenvolvimento tecnológico.
O LNEC tem uma relação importante com o Estado português.
O LNEC garante o apoio às administrações central e local e apoia o Governo nas suas decisões estratégicas, através da elaboração de variados documentos para garantir a qualidade da construção e a segurança de pessoas e bens. É esse o grande objectivo do Laboratório. Esse desafio passa por aquilo que eu defino como a «missão do LNEC»: o apoio às melhores práticas da engenharia no âmbito do ambiente natural e construÃÂdo. Nós procuramos actuar fundamentalmente nos riscos naturais e «antropogénicos».
Com que entidades costumam colaborar no que diz respeito àencomenda de estudos?
Trabalhamos com um conjunto de entidades (empresas públicas ou privadas) com uma preocupação com a qualidade e controlo de segurança das maiores obras públicas. Quando somos solicitados, apoiamos por exemplo o INAG (Instituto da ÃÂgua) na segurança das barragens; apoiamos a EDP, empresa que tem as obras de maior complexidade em termos de barragens; a REFER; a Estradas de Portugal, etc. O Laboratório é solicitado em apoio e não para desempenhar a função de autoridade.
Como se desenvolvem os estudos efectuados no LNEC?
O nosso grande problema é que muitas vezes nós intervimos, mas após acidente. É um dos grandes problemas. A nossa preocupação é poder intervir antes. Por exemplo, no caso dos acidentes que houve no Metro de Lisboa, o Laboratório só participou àposteriori.
Esse é um problema em Portugal?
Era desejável que o laboratório participasse de uma forma empenhada tanto na fase de concepção, como durante a construção. Mas sempre apoiando a administração. O nosso objectivo é prevenir para garantir a segurança de pessoas e bens. Somos cada vez mais uma sociedade de riscos e, por isso, temos que o ter sempre presente e avaliar qual é o risco de uma obra em todas as suas fases.
Como é que isso é feito?
A obra tem que ter uma adequada observação. A nossa grande actividade é na observação, que nos permite conhecer o comportamento da obra. Ao observá-la, podemos melhorar os nossos modelos de cálculo e o nosso conhecimento. É este tipo de experimentação que faz a riqueza de uma instituição como esta. Nas obras de grande complexidade isso é fundamental. Por exemplo, na Barragem do Alqueva temos cerca de 600 equipamentos lá colocados, não só na barragem mas também na zona envolvente, para permitir saber em cada instante como é que a barragem se comporta. Permite reduzir o risco. Numa obra instrumentada tenho menos risco de acidente do que se tiver uma obra abandonada.
Como é feita a selecção das obras a intervir?
Nas obras de maior complexidade participamos em praticamente todas. Temos um Despacho do Governo, que já vem do tempo do ministro João Cravinho no sentido da obrigatoriedade de acompanhamento de determinadas obras desde que tenham um valor superior a 50 milhões de euros.
Mais estudos poderiam evitar as constantes derrapagens de prazos e custos nas obras públicas?
Quanto melhor se conhecer a obra que vai ser lançada, quanto mais estudos forem feitos, mais de reduzem os riscos associados ao desconhecimento. Muitas vezes, as obras são feitas em zonas geologicamente mal conhecidas, portanto, há que investir muito no conhecimento. Por vezes não se investe o suficiente no conhecimento da situação da fronteira da obra e isso traz consequências. O que o LNEC defende é estudos, conhecimento, para reduzir a incerteza, porque assim há menos probabilidade das coisas correrem mal.
Que outros projectos destaca na actividade do LNEC?
Temos por exemplo o grupo Ecologia Social, que desde há muito tempo se ocupa da percepção de risco das pessoas. Ocupa-se da definição de cenários de comportamento das pessoas. Não nos cingimos àparte da engenharia pura e dura, mas incorporamos cada vez mais os conceitos de sociedade e de comportamento humano. A incorporação das ciências sociais para a resolução dos problemas de engenharia vem da década de 70: o Laboratório foi pioneiro em Portugal na introdução deste conceito associado àengenharia.
Porquê ter em conta a parte social para a aplicar àengenharia?
As obras públicas, os edifÃÂcios e tudo mais são feitos para as pessoas. Por isso, é preciso ter em conta o desempenho delas em caso de situações anormais, mas também o que elas querem tendo em conta aquelas obras. Temos neste momento no LNEC cinco doutorados da área da Sociologia. O grupo Ecologia Social tem pessoas provenientes da área da sociologia, da antropologia, etc. É um sector dinâmico, que garante uma grande transversalidade a todo o laboratório.
Quais são as mais-valias do Laboratório?
A vantagem do Laboratório é a multidisciplinaridade. Nós temos aqui no campus do LNEC os departamentos de estruturas, de transportes, de edifÃÂcios, de hidráulica e ambiente, de materiais, de geotecnia, de barragens, de qualidade de construção, de instrumentação cientÃÂfica, etc. Se qualquer um deles necessitar do apoio de outros sectores, isso é garantido. Essa é a grande vantagem do Laboratório em relação a outras instituições congéneres no estrangeiro.
É frequente haver esse cruzamento de conhecimento?
Aqui no Laboratório isso é estimulado. Não pretendemos que os investigadores A ou B esqueçam que podem ganhar um valor acrescentado na sua actividade se incorporarem as actividades que existem neste campus.
Como caracteriza os funcionários do LNEC?
Neste momento temos 680 trabalhadores, mas já tivemos mais de mil. Infelizmente não temos tantos jovens como gostaria. O que nos preocupa não é tanto a redução do número, mas o aumento da idade. Tendo em conta as nossas necessidades, introduzimos o conceito de bolseiro de investigação, que tem um estatuto com capacidade de atracção razoável, através de receitas próprias. Neste momento temos 46 bolseiros, licenciados em várias áreas, mas o core principal são engenheiros civis.
Qual a importância do sangue novo para esta instituição?
A idade média dos nossos funcionários é de 47 anos, o que é elevadÃÂssimo. Com a criação destes bolseiros de investigação, conseguimos reduzir essa idade e ao mesmo tempo criar o gosto em alguns jovens para as actividades que aqui desenvolvemos. O objectivo é formar jovens e que os melhores cá fiquem. A lógica é que nós estamos a melhorar a capacidade profissional de jovens que caso cá não fiquem estarão com capacidades para desempenhar melhor essa actividade e, consequentemente, trazer benefÃÂcios para o paÃÂs.
Qual é a relação do LNEC com o IST?
Temos uma relação privilegiada com o IST, através de um contrato de parceria. Os doutoramentos são feitos nas universidades, mas são preparados aqui com a orientação de professores das universidades e de investigadores do LNEC. 80 por cento dos nossos doutorados fazem-no no Técnico, mas temos alunos provenientes de outras Universidades.
Como vê aquilo a que se chama hoje em dia «fuga de cérebros». Porque é que o paÃÂs não consegue absorver pessoas que demonstram capacidades?
É uma resposta difÃÂcil. Nós próprios já tivemos «fuga de cérebros». É um risco que se corre. Temos é que criar condições para sermos atraentes para aqueles que fazem doutoramentos lá fora. Mas também não podemos criar amarras: o mundo está cada vez mais globalizado e não me choca que uma pessoa trabalhe nos EUA possa colaborar também connosco, contribuindo para o nosso desenvolvimento. As novas tecnologias permitem isto.
Como é que a sociedade encara o vosso trabalho?
A comunidade portuguesa olha para nós como uma instituição credÃÂvel e isenta. A sociedade vê no LNEC o garante de um determinado comportamento e a garantia de segurança. É esta preocupação preside a toda a nossa actividade.
Como é que perspectiva o futuro do Laboratório?
A nossa preocupação é apostar cada vez mais na formação e, com melhor formação podemos ter melhor produtividade.
LNEC
Fundado em 1946, o Laboratório Nacional de Engenharia Civil encontra-se sob tutela do Ministério das Obras Públicas, Transportes e Comunicações e do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior. Cerca de metade das suas receitas são próprias, geradas através de contratos. As principais actividades do LNEC baseiam-se na investigação cientÃÂfica e no desenvolvimento tecnológico. O laboratório realiza consultoria avançada e emissão de pareceres tendo por objectivos a qualidade e segurança das construções; a protecção e requalificação do património natural e construÃÂdo; o ambiente e sustentabilidade; modernização e inovação tecnológica, no domÃÂnio da engenharia civil e afins.