Centros Comerciais e Novo Urbanismo
Nos anos 50 iniciou-se uma nova etapa no urbanismo. Victor Gruen projectara nos Estados Unidos o primeiro “shopping centerâ€Â, revolucionando o conceito de ir às compras nas nossas cidades. Em paralelo, o urbanismo e o planeamento das cidades era fortemente abalado pelo fenómeno do carro. À medida que as cidades se tornavam locais mais dispendiosos… Continue reading Centros Comerciais e Novo Urbanismo
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Nos anos 50 iniciou-se uma nova etapa no urbanismo. Victor Gruen projectara nos Estados Unidos o primeiro “shopping centerâ€Â, revolucionando o conceito de ir às compras nas nossas cidades. Em paralelo, o urbanismo e o planeamento das cidades era fortemente abalado pelo fenómeno do carro. À medida que as cidades se tornavam locais mais dispendiosos para viver e que o carro se tornava mais acessÃÂvel, emergiam novos centros urbanos periféricos, os subúrbios ou dormitórios. Rapiamente, arquitectos, urbanistas e polÃÂticos se aperceberam dos problemas associados a este crescimento periférico. À custa do congestionamento, da poluição, e da desertificação de certas zonas das cidades, os subúrbios vieram desequilibrar a vida social e urbana das cidades.
Os próprios subúrbios contribuÃÂram para uma forma de vida isolada, anti-social e longe do comércio, não oferecendo a qualidade de vida desejada. CrÃÂticos deste modelo, os urbanistas dos anos 60 iniciaram um movimento conhecido por “Novo Urbanismo†em que se destaca a obra de Jane Jacob, reflectida no livro “The Death and Life of Great American Cities†(1961). Neste trabalho, Jane Jacobs revitaliza o conceito da cidade pedonal, defendendo que a ausência do carro promove o desenvolvimento de zonas mistas residenciais, comerciais e culturais, dando origem a bairros mais diversificados, com maior interacção social e melhor qualidade de vida.
Por inúmeros motivos, os nossos subúrbios não têm seguido a fórmula de Jane Jacobs e ainda hoje se vêem crescer aglomerados residenciais descaracterizados e pobres em diversidade urbana, e totalmente dependentes do automóvel. É neste cenário que o “shopping center†ganha relevância. Nos anos 80 e 90, estas catedrais do consumo vêem preencher um vazio na paisagem suburbana. O “shopping†vem reinventar o conceito de praça da velha cidade. Um local que é ponto de encontro, de lazer, de comércio, pedonal e seguro. Em certa medida, Jane Jacobs vê o seu conceito de cidade transposto para o “shopping centerâ€Â.
O valor urbanÃÂstico dos centros comerciais reside hoje apenas no comércio e no entretenimento. Cabe aos projectistas, promotores e polÃÂticos fazerem evoluÃÂr estes espaços para centros cÃÂvicos. Se a tendência do centro comercial é a de substituir o centro da cidade, não há razão para neles não existirem teatros, museus, bibliotecas, escolas, parques e outros programas de carácter público. Assim, os centros comerciais deixariam de ser vistos apenas como catedrais do consumo e poderiam vir a ter um valor acrescentado no modelo das futuras cidades.
Bruno Castro Santos, arquitecto do ateliê s i m b i o s e a r q u i t e c t u r a & d e s i g n