Défice obriga sector a encontrar alternativas
A internacionalização da actividade das empresas e a aposta na reabilitação são apontadas como alternativas a considerar em relação àexcessiva dependência do investimento do Estado A Comissão liderada pelo governador do Banco de Portugal, Vitor Constâncio, responsável pela avaliação do valor implÃÂcito do défice, concluiu que o «buraco» nas contas públicas é de 6,83… Continue reading Défice obriga sector a encontrar alternativas
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A internacionalização da actividade das empresas e a aposta na reabilitação são apontadas como alternativas a considerar em relação àexcessiva dependência do investimento do Estado
A Comissão liderada pelo governador do Banco de Portugal, Vitor Constâncio, responsável pela avaliação do valor implÃÂcito do défice, concluiu que o «buraco» nas contas públicas é de 6,83 por cento, um valor cerca de três vezes superior ao limite imposto pelo Pacto de Estabilidade e Crescimento. Este é o maior défice da zona euro. Além de todas as implicações que esta revelação trouxe para a maioria dos contribuintes, importa, neste caso, saber como vai o sector da construção reagir a mais uma forte machadada nas aspirações de crescimento previstas para este ano.
Para um sector fortemente dependente das cifras provenientes dos cofres dos Estado, seja directamente através de investimentos da administração central seja através das obras adjudicadas pelas diversas autarquias, esta revelação não surge na melhor altura.
Contudo, as empresas do sector da construção, com o peso que o sector tem na economia nacional, têm aparentemente bem definidas áreas em que poderão apostar para garantirem a sua sobrevivência.
De acordo com fontes ligadas ao sector , o anúncio do défice está a ser utilizado como bode expiatório para justificar a retracção do investimento público. «Há dinheiro para realizar os projectos, de acordo com o que dizem os nossos governantes e assim sendo, não há razões para que não se avancem com as obras», garante o colaborador de uma construtora portuguesa ligada às obras públicas contactado pelo Construir.
Arnaldo Figueiredo, administrador da Mota-Engil para o mercado internacional considera, por seu lado, que às empresas de obras públicas não restam grandes alternativas, que não aproveitar as oportunidades dadas pelo mercado.
«O investimento tem também todas as condições para ser entendido como gerador de riqueza. Onde o ministro por ventura se quer concentrar mais é ao nÃÂvel da despesa. Mas aguardamos para ver qual é o programa que o Governo vai apresentar ao nÃÂvel dos investimentos públicos. São necessários», garante Arnaldo Figueiredo.
A avaliar pelos indicadores apresentados pelas diversas associações, corroborados posteriormente com dados do próprio Instituto Nacional de EstatÃÂstica, os ÃÂndices de confiança dos empresários do sector vão decrescendo e não há sequer uma previsão de quando esta espiral poderá ter fim. Há contudo, no mercado, exemplos de sucesso nas alternativas ao investimento público. E alternativas de sucesso. Alternativas que, embora não sejam a solução para a resolução dos problemas das empresas a curto prazo, nomeadamente os que se prendem com a carteira de negócios e as questões que levantam a falta de nvestimento do Estado português, podem servir de base de boas práticas para outras empresas do sector.
Ajustamentos necessários
Face às condições em que o mercado se apresenta, importa então encontrar alternativas àdependência quase exclusiva de dinheiros públicos ou pelo menos àdependência de grandes projectos para salvaguardar a relevância do sector para a economia nacional.
Nesse sentido, há duas soluções que saltam àvista e que com trabalho preparatório por parte das empresas, podem bem ser fundamentais para a recuperação do sector da construção. Assim, a internacionalização das áreas de negócio e a exploração do mercado da reabilitação são duas das soluções mais viáveis.
Se por um lado o mercado da reabilitação continua com baixa expressividade no nosso paÃÂs, certo é que no continente europeu surgem mercados em crescimento, sobretudo em paÃÂses da Europa de Leste, muitos deles marcados por perÃÂodos de conflito armado que destruÃÂram infraestruturas importantes.
Para o economista José da Silva Costa, professor catedrático da Faculdade de Economia da Universidade do Porto, «o sector da construção civil deverá sofrer um ajustamento dado que o crescimento que se verificou em anos anteriores é praticamente inigualável nos próximos anos, e não só em relação a obras públicas. Não são previsÃÂveis taxas de crescimento tão grandes neste sector, pelo que as empresas têm de se saber posicionar face às condições que o mercado apresenta». «Julgo que é importante que as empresas percebam a importância de entrar num mercado global, que lhes permita formar parcerias com outras empresas no sentido de garantir uma maior competitividade no mercado externo», garante ainda aquele responsável.
A presença da Mota-Engil na Europa de Leste, Estados Unidos da América e Angola, a entrada da Zagope na Mauritânia, a aposta da OPCA no mercado africano, o anúncio recente da intenção da Teixeira Duarte em investir no Brasil, a aposta da Empreiteiros Casais na Rússia são apenas alguns exemplos de boas apostas de construtoras nacionais no mercado internacional.
Ainda assim, a internacionalização não é a cura para todos os males do sector. De acordo com Arnaldo Figueiredo, «não é por acaso que a Mota-Engil, na Europa de Leste, está presente desde 1997, não vamos chegar agora. Já estamos enraizados, já temos conhecimentos sobre os mercados, já temos estruturas locais estruturadas e com dimensão significativa. Na altura, estes eram paÃÂses que tinham prevista a entrada na União Europeia e que por essa razão tinham por necessidade crescer, pois não queriam estar num patamar inferior aos paÃÂses ocidentais», refere o administrador da Mota-Engil para o mercado internacional. Figueiredo dá também o mote para que as empresas possam ter algum sucesso no mercado externo. «Só há duas hipóteses de ter sucesso no mercado externo: ou são empresas já com uma dimensão considerável, tendo em atenção que uma empresa grande em Portugal não passa de uma empresa mediana na Europa, não só porque tem mais recursos económicos e humanos mas por causa da massa crÃÂtica que possuem, ou então são pequenas empresas que se especializaram em nichos de mercado muito especÃÂficos. Repare que não vê pequenas empresas espanholas no mercado internacional. Os mercados são demasiado competitivos. Quando se fala na Europa de Leste estamos a falar de paÃÂses que representam cinco ou seis ‘Portugal’. E se uma empresa não tem expressão no nosso paÃÂs, dificilmente terá em paÃÂses como a Polónia ou a Roménia.
Mas as pessoas pensam que uma vez que a situação está má em Portugal, a solução é procurar resultados rápidos com a internacionalização. E pensando assim é possÃÂvel que algumas dessas empresas acabem por sofrer dissabores. Mesmo sendo uma oportunidade, há que ter alguma prudência», garante Arnaldo Figueiredo, depois de anunciar que a Mota-Engil se prepara para investir cerca de três milhões de euros na Roménia. No caso da Sopol, a aposta passou pela preparação, nos últimos três anos, para «ser mais competitiva e mais eficiente», de acordo com o presidente da comissão executiva da Sopol, Grade Mendes. De acordo com aquele responsável, a empresa desenvolveu um conjunto de acções no âmbito da Qualidade, protecção ambiental e da Higiene e da Segurança no Trabalho, além de procurar a optimização dos seus processos. Contudo, mais do que encontrar alternativas de forma pura e simples, importa, segundo Grade Mendes, que as «empresas saibam qual é o verdadeiro volume de obras que têm para realizar e os prazos de conclusão, para que traçem com sustentabilidade as estratégias de desenvolvimento».
ANEOP avalia quebra do sector
Segundo a sÃÂntese de conjuntura relativa ao mês de Maio apresentada pela Associação Nacional de Empreiteiros de Obras Públicas (ANEOP), «quer se observe a evolução dos indicadores relativos àvenda de materiais de construção, quer aos ÃÂndices de produção e emprego, ou ao lançamento de concursos para realização de obras públicas, todos eles neste inÃÂcio de 2005 apresentam comportamentos negativos, o mesmo acontecendo às opiniões empresariais sobre a evolução da conjuntura neste segmento».
As vendas de cimento, um dos principais indicadores da actividade no sector da construção, registaram, no primeiro trimestre deste ano uma quebra de cinco por cento face ao perÃÂodo homólogo de 2004, e segundo a associação, os números podem ser explicados àluz «da situação difÃÂcil que a economia portuguesa vem registando desde 2003 e cuja alteração para uma evolução mais favorável ainda não é uma realidade.
Investimento sobreavaliado
José da Silva Costa, reconhece que face ao anúncio do défice excessivo e àpromessa do Governo em não fazer cortes ao nÃÂvel do investimento público, volte a pairar um clima de incerteza. «A ideia que existe é que realmente há a perspectiva de que se sobreavalia o investimento como mecanismo de salvaguarda da execução orçamental. À partida, a questão que se coloca é até que ponto é que as derrapagens orçamentais não vão ter como compensação menores execuções ao nÃÂvel do investimento. O ministro das Finanças, Campos e Cunha, anunciou que o investimento nacional (não co-financiado pelos fundos comunitários) deve crescer cerca de dez por cento em 2005, 2006 e 2007 e aumentar o ritmo para taxas de 20 por cento entre 2008 e 2009. Há no entanto, quem defenda que esta polÃÂtica de cortes não pode ser cega e deve ser equacionada devidamente. E lembram que as responsabilidades da vizinha Espanha para com o Pacto de Estabilidade e Crescimento são idênticas às de Portugal e o sector da construção nesse paÃÂs dá mostras de crescimento significativo.
Há segmentos no investimento público que vão continuar a ser necessários e onde o Estado não deverá estabelecer qualquer corte. A reabilitação do património, o desenvolvimento da rede rodoviária e as questões ligadas ao desenvolvimento das cidades são obras que vão continuar a ser feitas no mercado interno pelo que cabe também às empresas saberem posicionar-se face às oportunidades do mercado.
Análise
Construção em números
– Na Segunda metade dos anos 90, o sector da construção em Portugal cresceu a uma taxa dez vezes superior àmédia europeia; – Entre 1999 e 2002 foram concluidas, em média, 106 mil casas, valores que representam a conclusão de 290 casas por dia, uma a cada cinco minutos; – Os Planos Directores Municipais previam, só na região Norte, casas para 15 milhões de habitantes, numa população de 3,5 milhões; – Em 2003, o emprego no sector da construção representava 9,2 por cento do total do emprego nacional; – O investimento no sector da Construção tem constituÃÂdo um motor da economia, como é bem patente no peso que representa no total nacional (53% em 2003).